Emmanuel Nassar | 3 de set - 17 de out | 2015


Múltiplo ou únicos? Depende dos olhos de quem vê. As dualidades sempre estiveram presentes na obra de Emmanuel Nassar. E formam o conceito da exposição do artista plástico que estará, a partir de 3 de setembro, na Mul.ti.plo Espaço Arte: um caráter ambíguo (“E anfíbio”, segundo Nassar) que discute o limite da obra de arte, da própria arte e dos espaços para exibir arte. Tanto que um dos trabalhos da mostra estará exposto na Livraria Argumento, que fica no térreo do prédio da Rua Dias Ferreira: uma pilha de livros que “atravessa” o teto da livraria até chegar ao salão da galeria, no primeiro andar.

A obra é uma coluna de livros, formada por 400 exemplares de Boa romaria faz quem em sua casa fica em paz, do próprio Nassar. “Quando fui convidado para fazer a exposição, pensei logo na força que existe entre os dois estabelecimentos e quis criar uma interação entre eles. Além de acentuar essa conexão entre as artes plásticas e a literatura, entre o espaço de exibir uma e expor a outra”, explica o artista. Toda a mostra tem este conceito. “Desde sempre esbarrei em uma deficiência minha em realizar múltiplos. Não me agradava fazer uma repetição do que seria editado. Então acabei criando uma forma muito particular de produzir múltiplos, assumindo essa repetição com uma certa subversão do processo, de modo que cada uma das peças acaba ficando um pouco diferente das outras”, conta. O resultado é que os trabalhos expostos podem ser vistos como uma obra única ou como múltiplos. Ou ainda como diversas obras que, expostas juntas, formam uma série – sendo que cada uma é ligeiramente diferente da outra, transgredindo a ideia do múltiplo convencional, idêntico e numerado.

Assim é com o conjunto de 10 chapas metálica intituladas Lata, realizadas sobre um mesmo resto de chapa com fundo pintado em azul e branco. Ou com os módulos de chapas pintadas que são montadas em um chassi também de ferro, e que podem conter dois, quatro ou oito partes (na Mul.ti.plo será um painel de oito). Ou ainda com Credo, edição de 10 pequenos blocos de madeira como se fossem livros (mais uma vez os livros aparecem na mostra), assinados na lombada e com uma intervenção de pregos formando uma cruz na capa – e montados na galeria também em forma de cruz. Todos podem ser adquiridos como uma só obra, em pares ou separadamente.

“Em toda minha carreira venho repetindo a experimentação do limite entre o que está fora do campo da arte para o que está dentro. A pilha de livros da exposição representa bem isso: é atravessar o espaço da realidade, da vida comum, para o pensamento da obra como arte, quando ela atravessa o teto e chega à galeria. Essa transitoriedade caracteriza a arte contemporânea, a relação com extremos, opostos e contrários, buscando sempre a conexão ou o equilíbrio entre as duas partes”, diz Nassar.

A mostra se completa com algumas obras em papel. Em uma delas, o artista usou como base os papéis Fabriano que mantém em sua mesa, “sujos” pelos muitos resíduos de tinta de outros trabalhos. Com 50cm x 70cm, colado sobre uma estrutura, serve como suporte para a aplicação de objetos em ferro e madeira. Em outro, Quadro de luz, fotografou um objeto em metacrilato realizado há algum tempo, feito em papel e luz fluorescente. De uma série de cinco, um foi vendido para o MAR do Rio de Janeiro e um estará na Mul.ti.plo. A terceira série em papel se chama Amassados e reproduz mapas de municípios do interior do Pará (estado natal do artista) pintados em vermelho.